Sabemos que a consolidação dos idiomas nacionais europeus, sobretudo aqueles de matriz latina (isto é, derivados do latim), ocorreu na passagem da Baixa Idade Média para a Idade Moderna, ou seja, entre os séculos XII e XVI. Porém, a história da formação de cada um desses idiomas deve levar em consideração a mescla de elementos das línguas bárbaras com o latim, haja vista o amplo contato que muitos povos bárbaros do norte europeu tiveram, por séculos, com o Império Romano (no qual vigia a língua latina). A origem da língua portuguesa é um exemplo dessa mescla.
Onde
A região que deu origem ao Estado moderno português situava-se no noroeste da Península Ibérica, em torno do rio Minho. Foi nas extensões de terras de ambas as margens do rio Minho que começou a ser falado aquilo que posteriormente viria a ser definido como galego-português, ou língua galaico-portuguesa. A pesquisadora Amini Boainain Huay divide a origem da língua portuguesa em três fases principais, uma pré-histórica, uma proto-histórica e uma, efetivamente, histórica.
A fase pré-histórica não se refere, naturalmente, à Idade Pré-histórica arqueologicamente falando, mas a uma “pré-história” no sentido de uma fase em que nossa língua ainda era rudimentar. Essa época compreende os séculos anteriores ao X, período em que Portugal restringia-se à região do rio que mencionamos acima, que ficou conhecida como Condado Portucalense. Essa região foi cedida pela Espanha aos primeiros nobres de Portugal durante as primeiras guerras contra os muçulmanos pela reconquista da Península. Como diz Huay: “A época pré-histórica é o período de evolução do latim falado na Galiza e na Luzitânia, desde a conquista da Península Ibérica até a formação dos romanços, no século V, culminando com a definição do romanço galaico-português como língua falada nas duas margens do rio Minho.” [1]
Primeira línguas européias
Os “romanços” de que fala a pesquisadora Huay são as primeiras línguas europeias cuja estrutura básica deriva do latim vulgar (ou românico). Todavia, a língua portuguesa formou-se, além dos elementos do latim, também por elementos celtas e árabes. Os celtas colonizaram a Península Ibérica muitos séculos antes do adentramento romano, que só ocorreu no ano de 218 a.C., de modo que lá deixaram profundas raízes culturais que seriam importantes para a formação da língua portuguesa. A palavra “carro”, por exemplo, é de origem celta.
Já na época proto-histórica, diz Hauy que: “os documentos escritos em latim bárbaro atestam já palavras e expressões do romanço galaico-português: estrata (estrada, lat. via), conelio (coelho, lat. cuniculum), artigulo (artigo, lat. articulum), ovelia (ovelha, lat. Ovicula) […]”. [2] Nessa época, séculos XI e XIII, já era possível, portanto, perceber com mais nitidez a organização da língua em torno do galego-português, que seria a base principal para o português definitivo.
Fase histórica
Do século XIII, temos a fase histórica, isto é, o português começou a ser registrado na forma escrita – procedimento que era executado até então somente em latim. Esse registro era feito de forma eminentemente fonética, sem ainda preocupações lexicais. Entretanto, os raros registros do português do século XIII, sobretudo em crônicas (prosa), podem ter sido alterados por escribas dos séculos posteriores. O fato é que, a partir de então, o português já era uma língua efetiva e viva e em constante aperfeiçoamento. No século XIV, começaram a aparecer os textos em prosa mais bem elaborados e também aqueles em formas poéticas, como as cantigas trovadorescas. Esses textos ajudaram a moldar também o modo de pronúncia das palavras (vogais tônicas, acentuação, etc.).
Nos séculos XV e XVI, o português passou a se impor no mundo como uma das grandes línguas modernas, ao lado do castelhano, do francês, do italiano, etc. Nomes como Sá de Miranda e Luís de Camões (com seu poema épico “Os Lusíadas”) consolidaram definitivamente a língua portuguesa.
NOTAS
[1] HAUY, Amini Boainain. “Séculos XII, XIII e XIV”. In: SPINA, Segismundo. (org.) História da Língua Portuguesa. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008. p. 35.
[2] Idem. p. 36.
Por Me. Cláudio Fernandes
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